domingo, junho 01, 2014

Rock Yeahhhh! no Domingo Desportivo 1990

Ah pois é. Agora o look and amuito na moda.. e o bigode e tal.. vamos fazer um acção de bigodes.. mas isso é alguma novidade? e se fizessem como o Fernando Cruz!? isso é que era. Bigode e cabelo farto. aliás, nao e´um cabelo farto...é uma cidade de cabelo , a capital da cabeça de Fernando Cruz. A partir do minuto 2m34 deliciem-se... logo depois do Rodrigo Guedes de Carvalho.

terça-feira, dezembro 24, 2013

Rudi de Natal 2013

"Eu, Rudi, deseja muito votos de feliz Natais a vocês e todos vós."

quarta-feira, outubro 16, 2013

Denilson, o Bárbaro


Denilson é nome de craque. Foi com esse intuito que este Denilson chegou a Belém em 1992.


O início dos anos 90 foi uma época atribulada em termos estilísticos. Casacos verdes suficientemente largos para albergar um Walter, dois Miguéis Velosos e meio Ghilas conviviam sem aparentes sobressaltos com meias brancas e calças de ganga cor-de-rosa. O Manuel Luís Goucha passeava o seu masculiníssimo bigode e a Júlia Pinheiro ainda conseguia ser mais ou menos cool. Os cabelos podiam ir de um aglomerado de gel tipo Parker Lewis ao saudável e frondoso estilo pseudo-metaleiro, sendo que uma permanente ainda era largamente tolerada.


Porém, com aquela selva capilar salvaguardada por uma robusta monocelha, Denilson abusou. Não tiraram partido dele. E ele partiu ao fim de meia-dúzia de jogos, perante um balneário cheio de destroços de espelhos. Ninguém conseguiu passar-lhe um pente, quanto mais uma bola.


Como factos relevantes, assinale-se que Denilson fez corar Jaime Cerqueira, Fernando Couto ficou enjoado e a Isabel Queiroz do Vale questionou o exercício da sua profissão durante meses.


Denilson: bárbaro da cabeça aos pés, quer ao nível do jogo jogado como, sobretudo, da aparência física.

sexta-feira, setembro 20, 2013

Marlon, o Brandão.

“Eu era um cara alegre, sempre divertido p'ra cacete. Meu cabelo era sedoso e fazia o melhor feijão de Colatina. Não acredita, cara?”, indaga Marlon Brandão. 
“Depois tudo mudou. A culpa é daquele cara péssimo, o Bambo. Nossa, que cepo.”

Marlon caminha pensativo. A equipa de reportagem CDB foi encontrá-lo a passear junto ao mar, como ele sempre faz nos dias livres. “Gosto de vir aqui. Me dá a paz interior que preciso para dar graças a Deus e amar minha família. Para além disso gosto de lamber areia.”
Brandão deixou marca no futebol português  O diminuto brasileiro foi a gazua preferencial do Boavista da primeira metade dos anos 90.

"Sou um cara bonito."
“Eu era o palito que ia buscar aquele incómodo pedaço de almoço preso no molar bem la atrás  Quando os outros não conseguiam, era tempo de Marlon. O Marlon consegue. O Marlon vai buscar.”

Porém, Marlon teve que enfrentar algo que nunca julgou ser necessário: o inferno do roubo de identidade.
“Nossa! Lembro do momento como se fosse hoje. O Bambo estava dando cabeçada no poste – ele costumava fazer isso a meio dos treino. Fui ter com ele, dizendo que dez minutos de cabeçada era suficiente e que devia vir junto da galera, injectar substancias beber café para o balneário ”, afirma um nostálgico Marlon enquanto lambe um pouco de areia do calçadão.

“O Bambo se vira para mim e me diz que tinha visto um filme na noite anterior. Eu pensei: porra, se quisesse falar de filme com os colega, iria procurar um emprego para intelectual como tratador de animais ou cara dos computador. Mas ele insistiu. A película era “O Padrinho”: ‘Tem la um cara com seu nome. 'Cê foi roubado!’ – me disse ele. Ai eu flipei!”, grita inesperadamente Marlon, chamando a atenção dos transeuntes e envergonhando a discreta e bem-falante equipa de reportagem CDB.
“Esse cara actor estava roubando meu nome. Já sabia que os americano eram grandes torcedores de meu futebol, mas isso foi levar as coisa longe demais. Ainda por cima esse babaca nem conseguiu copiar o nome direito.”

Marlon Brandão senta-se num muro e leva a mão ao bolso, exibindo um molho de fotos de Marlon Brando. O brasileiro ignora convenientemente o sapinho morto que lhe caíra entretanto da algibeira, mas a astuta equipa de reportagem CDB não deixou passar esse triste facto. Fica a referência.
“'Cês estão vendo? E esse o cara. Nossa, ainda por cima era gordo. Que nojo.”, assevera o ressentido ex-axadrezado enquanto vai observando os já amarelados pictogramas. “De certeza que 'cês não o conhecem. Mas porra, esse infeliz tentou ser famoso aproveitando o reconhecimento mundial de meu nome. Isso não é bonito não", queixa-se o brasileiro.

“Eu fiquei bastante chateado na altura. Isso afectou meu jogo. Só pensava que esse cara americano estava tirando meu mérito, estava bebendo a gloria de meu suor. Cara, e bom beber suor, toda a gente sabe, não me interprete mal...mas esse babaca ficou famoso as custa de meu nome. E depois comecei pensando no pior.”, murmura um cabisbaixo Brandão enquanto bebe um golo de suor de cavalo do seu cantil personalizado. “Será que todo o tempo que ouvia todo o mundo falando meu nome, era desse gordo americano que estavam falando? Cara, os media, a TV, a radio...comecei pondo tudo em causa. Meu mundo desabou, né?...”
“Agora esse pensamento parece bobagem, bem sei. Todo o mundo sabe quem é eu, e claro que ninguém sabe quem era esse babaca. Mas por uns tempos pensei que pudesse ser ao contrário.”, afirma um sorridente Marlon Brandão, esperando pela anuência da nossa equipa de reportagem e consequente gargalhada colectiva.

Mas ninguém riu.

Marlon e o amigo Ricky de vacances.





















Ninguém riu.

sábado, agosto 31, 2013

Zé Nando

Ele é abnegado, raçudo, sem especial talento mas com a humildade típica do lateral solidário que apenas deseja o bem da equipa e o cheque no final do mês para pagar as tainadas de domingo com família e amigos.
gamado de gloriaspenafiel.blogspot.com
Ele joga à sueca, ele anda de chinelo de desporto com meia branca no balneário. Ele manteve o mesmo estilo capilar durante década e meia só porque sim. Ele é uma chapada no establishment e no mainstream, porque ele não sabe o que são o establishment e o mainstream. Ele não quer saber o que são o establishment e o mainstream. Ele quer bem aos seus, é amigo do seu amigo. Ele vai de Famel para os treinos, porque a Famel funciona. Se era boa para o Pai nos anos 70, também e boa para ele. Ele e o gajo porreiro de que toda a gente gosta porque não bebe cenas de maricas quando vai sair a noite ao café da aldeia. Ele bebe cerveja, tinto e bagaço  Ele partilha um bom chouriço assado com os portugueses do plantel e a bela da feijoada com os brasileiros. Ele gosta de toda a gente e toda a gente gosta dele. Ele é o Zé Nando.
Ele é o standard, mas nunca Liège porque isso fica muito longe. Penafiel é casa, Paços é perto, Leça, Guimarães e Barcelos não ficam longe. Chipre foi erro. Casa é tudo. Naprons na mesa de jantar e cenas de renda branca com bibelots em cima da TV da sala. 
Em campo, cruza sem grande critério  Na estrada, atravessa cruzamentos sem olhar para os semáforos  Sinais de trânsito são para maricas e estrangeiros. Ele rouba a TV Cabo ao vizinho porque fica mais barato. Ele não gosta do governo, os políticos são uns todos gatunos, mas vota sempre no PS e no PSD. Os gajos dão canetas porreiras e calendários jeitosos durante as campanhas eleitorais, e as t-shirts dão para vergar mola no campo ou ir rachar lenha aos fins-de-semana, quando não há jogo.
gamado de cadernetasecromos.blogspot.com
Ele é futebol. Ele e Domingo as três da tarde. Ele gosta dos programas de verão da RTP porque são bem dispostos. Não gosta do sotaque do Toy, mas tem a discografia toda dos Diapasão porque lhe tocam o coração  Em cassete e CD, porque MP3 são para maricas. Ele não gosta de maricas. Ele e a personagem default que aparece quando queres iniciar um FIFA ou PES em player mode. Ele cheira a futebol. A relva, suor e equipamentos lacatoni mal lavados. Ele gosta de cães rafeiros porque são bons companheiros e não gosta de chineses porque vão para Portugal roubar postos de trabalho. Ele foi um pioneiro a lidar com a crise e com o desemprego, mas mandou-os à merda. Porque ele queria jogar futebol.
Ele é prático, sabe mexer em ferramentas mas mete-lhe asco ter que lavar a louça  Lavar a louça é para mulheres e crianças  Ele põe cenas no cabelo para ficar mas solto e ondulado, mas está a cagar-se para o resultado final. Ele quer é jogar à bola.
O nome dele é Zé Nando, e ele é futebol.

sábado, agosto 03, 2013

Na Casa do Toy

O povo lusitano, antes de massacrado pela crise e deprimido pela instabilidade politica e social, enfardava fortemente a mesa do tubo catódico, deliciando-se com o mais opíparo dos repastos: a vida de Toy. De carros a mulheres, passando por choco frito ou calcas aderentes, o potente baladeiro ensinou-nos muito na vida. Com ele rimos, chorámos, compreendemos a necessidade de chamar um António, de afagar cuidadosamente os nossos sensíveis Olhos D'Água, ou até mesmo de chutar um assunto incomodativo para canto, pois "tu e que querias festa".
Toy, fã de longa data do "Cromos da Bola"

Quem também gostava de chutar para canto era "o outro Toy" (ou para pontapé de baliza e pela linha lateral, enrolado e sem forca).
Alheio a toda esta obsessão para com o Tom Jones português, o então futebolista do Salgueiros caminhava solitário pela sombra - homónimo, mas infeliz. "Ninguém me ligava puto. Os portugueses passavam a vida com o Toy na boca, mas eu era tratado aos pontapés. Desde cedo percebi que estava destinado a uma vida de renegado, de pária…confesso que o meu coração brilhava sempre que ouvia o meu nome na TV…para cair depois numa longa e agoniante caminhada pelas profundezas infernais da depressão quando me apercebia que era do broeiro de Setúbal que falavam."
 Porém, alturas houve em que o bombardeiro cabo-verdiano esteve também ele nas bocas do Mundo: "Foi bonito ter sido comparado ao Eusébio. Jogar no Benfica foi um sonho realizado. Mas quando via craques como Mawete Junior* ou Pepa a fazer malabarismos e a comer tremoço com casca nos treinos, cedo percebi que aquele mundo não era o meu. Eles eram melhores Eusébios do que eu. O Pepa tinha problemas nos joelhos e tudo...eu sabia que não conseguia competir. Já que não conseguia ser um bom Eusébio, tentei ser o melhor Toy possível. Mas nem isso consegui. Tudo por causa daquele broeiro."
 Já no Salgueiros (01/02), Toy tentou recuperar a chama perdida com a confiança desfeita pelo peso da comparação a Pantera Negra:
"Marquei 5 golos em 33 jogos em Vidal Pinheiro, um excelente pecúlio para um ponta-de-lança. Mas o que me orgulhou mais, foi ter marcado mais do que o Mawete e o Pepa juntos. Ate porque o Mawete marcou zero e o Pepa nenhum. Foi uma época em cheio. Finalmente era eu o ultimo dos Eusébios. Orgulhoso, de pé."
"Olá, eu sou o Toy. Não, o outro."
Porem, a nuvem negra em forma de cançoneta popular pairava incólume sobre a sua cabeça. "Esta época de sonho, a dos 5 golos, calhou ao mesmo tempo da estreia do programa do outro gajo. 'Na Casa do Toy', chamava-se assim. No inicio pensei que falavam de mim na rua, nos cafés…mas depois comecei a aperceber-me de cenas estranhas. Eu nunca conduzi com os joelhos ou apalpei as mamas da minha mulher em almoços de família. Esta gente estará maluca, pensava eu. Ignomínia! Depois a dura realidade atingiu-me com violência. Vi um azeiteiro com suíças fininhas a arrotar em frente a esposa e a comer que nem um porco, e pensei cá para mim: aqui há gato. Mas não era gato, era Toy. Fiquei pior que estragado. Não consegui ser um bom Eusébio, nem sequer um bom Toy."
 A medida que o ex-torneiro mecânico de Setúbal ia tornando Portugal num povo estupidamente apaixonado, o cabo-verdiano ia enchendo seus olhos d'água. E a vida nunca mais seria a mesma.
"Senti na pele aquilo que o Marco Paulo do Estoril e do Estrela**já dantes sentira. Não e fácil. 'Aguenta-te com esta', pensei eu…mas depois vi que o outro Toy ja se tinha antecipado a essa também. Toda a minha vida e um triste LP de insucessos e baladas lamechas.***"

  • *actual craque do Dingli Swallows, da II Divisão maltesa (a serio)
  • ** o único jogador a fazer 15 posições diferentes em campo, mais 2 do que Carlos Costa.
  • *** NOTA DA REDACÇÃO : e o Toy antecipou-se a essa também.

quarta-feira, julho 17, 2013

Oito Maravilhas



No Verão de há 15 anos, não era a Expo ’98 nem o Portugal “in fashion” de Guterres que faziam sonhar o povo. Todos sabíamos que o que aquecia os nossos corações era o aproximar de mais uma época de bola… e esta colecção em particular, de uma qualidade gráfica a roçar os melhores trabalhos de 1940 (coincidentemente, outro ano de exposição lusa ao mundo).

Na pérola do Atlântico, este guardião belga cimentava a sua posição entre os postes. Um nome forte, suficientemente exótico mas razoavelmente pronunciável, e um queixo quadrado à lá Stan Smith. Foi o último de uma linhagem de guardiães da terra do Tintin que adocicaram as nossas cadernetas, depois dos bons auspícios de Hubart, passando pelo anti-vedetismo de Preud’Homme e decaindo para a marreca do De Wilde. Van der Straeten caiu injustamente no esquecimento, mas se quiserem podem visitar a sua página no Facebook e segui-lo só por uma questão de compaixão. Todos os likes serão bem-vindos e ajudarão Van der Straeten a fazer as pazes com o seu ego.

À frente de Straeten, Alex Bach. A grande dúvida à volta de Bach era se pronunciá-lo como “bache”, “baque” ou “barrh” – chamá-lo só Alex era quase sacrilégio depois do retumbante êxito de Alex, o Bunbury. A outra dúvida era se o tipo era mesmo descendente do compositor, o que poderia conferir-lhe um certo prestígio que nunca justificou em campo. Com tantas indecisões, Alex not Beethoven demorou a afinar marcações, falhou alguns tempos de salto, deu sinfonias de como não jogar em linha e foi escrever árias para outra freguesia finda esta época… para nunca mais voltar a jogar fora do seu país. O Passo Fundo, o Sapiranga e o Chapecoense que o digam.

Rodando a agulha para Chaves, damos de caras com uma cara sobejamente conhecida… aparentemente. Este parece, numa primeira instância, o velho Filipe, tão largamente dissertado nestas páginas etéreas. Mas numa vista mais cuidada, notamos que, na verdade, é o seu gémeo perdido, o Filife. Filipe era devastação, Filife era criação. Filipe cravava pitons, Filife cravava trocos para a disco. Filife é uma contracção anglicista de “feel” + “life”, “sente a vida”. Como todos os que saboreiam a vida no limite, Filife teve vida curta e desapareceu dos radares após esta temporada. Filipe não ficou atrás e também se eclipsou nesta temporada dos palcos maiores do futebol indígena.

No velho Salgueiral ainda pululavam estrelas cadentes do futebol. E quando estas faziam finca-pé e teimavam em rejeitar o solene Vidal Pinheiro, então arranjavam-se imitações que faziam corar os originais. Senão de espanto, talvez de embaraço. Eis Schuster, não o genial alemão, mas o prodigioso transmontano Rui Miguel, que fez gala do seu penteado à tigela e da sua cara sacada a um anúncio seminal das batatas Pála-Pála. Viveu a “personna” de Schuster (sem “c”) com muito afinco. Isso levou-o a inquietar-se rapidamente com os ares de Paranhos, desatando a correr meio mundo. Com direito a visitar o óbvio Chipre, onde distribuía autógrafos em que assinava “I’m The Real-Fake Schuster”. 

Voltemo-nos agora para Coimbra, onde damos de caras com uma cara bem conhecida do showbiz internacional: nada menos que o aclamado Febras. Não, não é o Febras, que também é uma eminência à sua maneira, mas é o Mickey. Médio laborioso e conhecido mundialmente por namorar a ratinha mais famosa do Universo, foi mui respeitado nas hostes beirãs, nomeadamente pela claque Mancha Negra. Até que caiu a moeda e pensaram “Oh diabo, então a Mancha Negra apoia o Mickey? Temos sido muito Patetas…”. O paradoxo atingiu dimensões colossais e, aqui d’el Coronel Cintra, Mickey foi forçado ao exílio. 

A mística conimbricense, contudo, continuou presente nas mãos do Sr. Vítor Alves. É verdade, houve um Pedro Roma antes de Pedro Roma. Este secular senhor, aliás, já pouco mais fazia do que carregar a mística, pois jogar era coisa que já lhe pesava demasiado nas articulações. E só Deus sabia o quanto lhe custava aguentar com a mística e quantos emplastros foram necessários para levar a mística a bom porto. Nesse sentido, o trabalho que menos lhe custava era babar-se para uma garrafa enquanto estava no banco, garrafa essa que depois era ofertada como “água mineral da boa” aos caloiros da equipa.

Nesta turma de estudantes pontificava ainda o monossilábico Tó Sá, bastas vezes referenciado por aqui, mas cujo perfil só agora é condignamente exposto. Foi lateral de créditos firmados, pertencente a uma casta em que abundavam Tós no panorama nacional. E Zés e médios obscuros com II no nome também. E chegava a haver, numa conjugação perfeita, o Tó Zé II. E Tó Zés e Zé Tós no mesmo plantel. E quando Sá ainda era sinónimo de apelido de goleador de culto para alguns (sim, estamos em pensar em ti, Moreira de Sá) (não, por acaso não estávamos a pensar em ti, Orlando Sá) e não nome do meio para futuras vedetas pseudo-boxistas.

Pois, o Bira… Bira? “Mas quem é o Bira?”, é a nossa pergunta e a dos próprios companheiros de equipa, desde o Hugo Costa ao Caju. Se o Bira era bera… é bem provável que sim. A qualidade gráfica do cromo, essa sim, é indiscutivelmente (olá, Guilherme Aguiar) bera. Podemos dizer que Bira gostava de beber cerveja por uma palhinha. Ou podemos dizer que Bira dava cambalhotas sempre que ouvia Chitãozinho & Xoróró. Ou ainda que ele contava sempre aquela anedota do palhaço que foi encontrado no deserto todo nu e com um baralho de cartas na mão e ninguém percebia. Pode ser verdade, pode ser especulação, ninguém sabe e ninguém se importa. E isto é tudo o que se nos apraz dizer sobre o Bira. Já não é mau.

segunda-feira, julho 15, 2013

Dantes



1989. Muita água correu debaixo do Vítor Pontes desde essa época.

Hoje, um mero anti-histamínico fora de contexto pode rasgar a carreira de um jogador em pedaços. Mas dantes era o tempo em que um futebolista que acusava cocaína num controlo anti-doping apanhava três meses de suspensão e depois ia estagiar com o seu clube ao estrangeiro no defeso seguinte, sorridente como se nada fosse. Falamos de Hernâni. E depois o desplante de apresentar aquela mancha tenebrosa nos sovacos sobre uma camisa de tonalidade rosa. Seria do nervoso miudinho? Pois, à falta de desodorizante, nada melhor que acender um cigarrinho para acalmar. Em resumo: um futebolista profissional a quem detectaram cocaína uns meses antes apresenta-se a suar alarvemente das axilas e põe-se a fumar, em pleno aeroporto, numa viagem oficial da sua equipa, pela qual se manteria por mais 5 anos.


Era um mundo maravilhoso, portanto. Como maravilhoso era o frondoso matagal que cobria as partes altas do maior dos empresários portugueses de então: Manuel Barbosa. Pese o ar esgazeado e a suspeita de que hoje jamais lhe compraríamos um carro usado no seu "stander" da berma de estrada, não se deixem enganar: este senhor foi o Jorge Mendes quando Jorge Mendes ainda não sabia que duas mamas podiam caber numa só. Manuel Barbosa e o seu impecável aspecto oleoso constituem por si só um notável pictograma, mas a pièce de resistance é o pormenor do sr. Aníbal lá atrás no mural do seu humilde escritório, como um Deus omnipresente.

Pois é, afinal nem tudo mudou desde então.

sexta-feira, julho 12, 2013

Bruma, A Novela


 
Tudo começa com o menino Bruma a jurar amor eterno ao Sporting, porque gostou de ver o Fábio Paim a saltar para uma piscina e se o Paim estava ali a mandar um ganda cenário na SIC em horário nobre só por ter jogado no Sporting, então é porque o Sporting é bom. Bruma entretinha-se com uma bola de trapos numa picada, enquanto Cátio Baldé açoitava à sua ilharga uns quantos rapazitos e mulheres com mamas muito descaídas ao léu que passavam à sua frente, splash aqui, splash acolá, era vê-los a prostrar-se no solo como malakutés, que é o animal mais parecido com tordos que há na Guiné. Baldé, o capataz, gerava ódios e medos por onde passava, mas Bruma alheava-se de tudo graças à sua bola de trapos. Do nada e numa cena bastante arriscada, Kumba Yalá salta de uma pickup em movimento sobre Baldé e tenta sufocá-lo com o seu barrete. Baldé debate-se com dificuldade. Sentindo o perigo, grita ao menino Bruma para que este acerte com a bola de trapos em Yalá, que depois Baldé levaria Bruma de mão dada até às portas do paraíso como recompensa. Bruma acede, não sem antes fintar desnecessariamente um par de minas terrestres e um pau com uma garrafa de Coca-Cola espetado no chão, que é ao que na Guiné chamam de “pino de trânsito”. Yalá sente o impacto da bola de trapos mesmo ali entre o seu 1º e 2º dentes e fica atordoado, caindo para trás em cima de um monte de palha e de fezes de cabra, dizendo “Manure? I hate manure!”, numa referência ao “Regresso ao Futuro” que ninguém percebeu. Então vê-se uma granada a aparecer junto a Yalá, não se sabe vinda de onde, e Yalá fica a olhar para a câmara, numa cena bué “breaking the fourth wall”, com aquela cara de coiote que vai cair no precipício, solta um “yiaks!” e dá-se uma explosão. Bruma chora e fica ainda mais assustado quando, na sequência do estrondo, surge-lhe a cabeça de Nino Vieira a rolar pelo chão até aos seus pés descalços. Devia ter sido a cabeça do Kumba Yalá, que afinal era o tipo que tinha estado na cena, mas os gajos na Guiné estão sempre a morrer e os realizadores pensavam que ninguém iria reparar naquela falha do enredo, naquele que foi apenas mais um de vários erros flagrantes de continuidade. Bruma ficara psicologicamente afectado para o resto da vida e sempre que se sentisse mais confuso estas imagens voltariam a preencher-lhe o cérebro em flashbacks exibidos em tons sépia. Baldé, aliviado, disse para Bruma, “vamos, rapaz, vamos lá tratar das nossas vidas”, com uma palmada nas costas que lhe estalou duas costelas. Em simultâneo, numa zona mais setentrional, Bruno de Carvalho, o patriarca de uma família nobiliárquica, sente um estremecimento súbito enquanto toma o seu pequeno-almoço carregado de croissants e sumos de laranja naturais. “Que foi?”, pergunta-lhe a escultural esposa, ao que Carvalho responde que “não é nada… não é nada, amor”. Dier, o filho predilecto, parece desconfiar, ao passo que Ilori, o filho não tão predilecto, nem deve ter dado conta, distraído que estava a sondar vivendas na zona oeste de Londres no seu iPad.


Bruma já joga no seu sonhado Sporting e diz a toda a gente que ama o Sporting, not the Moutinho kind of love, but real love. E Bruno acredita, Dier franze o sobrolho com o pé atrás e Ilori nem sequer o ouve porque está a escolher que tipo de phones vai levar para o treino. Baldé pede a Bruma que lhe mostre quanto recebeu de ordenado, que ele vai-lhe abrir uma conta num banco muita bom que é o BPN ou BPP ou lá o que é, mas Bruma mostra apenas 2,5 € e um passe da TST. E, ainda por cima, deixa cair os 0,5 € no chão, facto que motiva o aparecimento de Zahavi, o judeu, que, noutro movimento de “breaking the fourth wall”, olha para a assistência e dispara, com um sorriso largo, “chamaram?”, levando o público a bater palmas e a rir-se muito naturalmente, extravasando o seu anti-semitismo sem pudores. Zahavi manda o seu grupo de operações especiais de gajas israelitas limpar o sebo a Baldé e Baldé desaparece do ecrã. Zahavi começa a dizer que Bruma pode ser um novo Djaló, mas com uma mulher a sério como sua esposa, e Bruma, apesar de achar fascinante essa perspectiva, começa a ficar confuso e aquelas imagens em flashback aparecem pela primeira vez. Dier não gosta de Zahavi. Ilori diz que Zahavi nunca lhe emprestou dinheiro para sair à noite e por isso é “má cena”. Bruno abomina Zahavi. O próprio Bruma também não vai com a cara de Zahavi. Ninguém gosta de Zahavi e isso é daquelas coisas que dizem ter raízes históricas e que nunca ficaram completamente resolvidas até hoje. Zahavi acaba por se afastar, mediante compensação financeira contratualmente prevista, não sem antes botar um comprimido no Isostar de Bruma, que tem alucinações com os fantasmas do Natal do passado e do futuro. O primeiro fantasma, um tipo vestido à Bobby McFerrin, mostra-lhe o passado humilde, os seus 34 irmãos todos juntos na cubata a mamar na sua mãe, o Brumazinho a brincar com candura com uma Kalashnikov que encontrou casualmente junto a um arbusto, o Baldé a passear com ele num safari e muitos karankutangas, que são animais fofinhos apesar do nome e que só existem em África, a saltar alegremente à volta em perfeita harmonia. O outro fantasma, um tipo despido à 50 Cent, mostra-lhe um futuro de luxúria e hedonismo, o Bruma a laurear-se por Beverly Hills, com a Nicki Minaj debaixo do braço e muita gente cheia de tatuagens e cabelos esquisitos a inalar pó de talco com notas de 100 dólares, trocando pastilhas por intermédio de linguados libidinosos em limusinas apoteóticas e tipos por todo o lado a rimar com gestos epilépticos que cativam a atenção de miudinhas de 12 anos já com mini-saia, celulite e tops que mostram o umbigo. O fantasma Bobby McFerrin exibe uma foto do Paulo Costa e do Alhandra e Bruma não percebe, mas exalta-se quando o fantasma 50 Cent lhe mostra fotos do Cristiano Ronaldo e do Cristiano Ronaldo com madeixas – Bruma tinha tido um momento de revelação. Passou a amar assolapadamente o Mónaco, renegando o Sporting. O Sporting foi para casa a chorar, o Bruno, “então, meu leãozinho, o que foi?”, e o Sporting, babado e cheio de ranho, disse que estava farto de ser trocado e de não conseguir assentar, mau grado os implantes de silicone e os facelifts. A mulher do Bruno, agarrada ao seu marido, faz cara de cãozinho abandonado para mostrar compaixão pelo Sportingzinho, mas, lá no fundo, sabe que aquilo já não vai ao sítio, a estupidez e a feiura são congénitas e irreparáveis. Bruno, porém, não desiste. Dier jura vingança, apoiando Bruno. Ilori diz que também apoia, mas primeiro quer passar de nível no jogo da X-Box que está a jogar. Baldé regressa, todo ensanguentado, e nós não percebemos bem porquê, mas aquelas cenas de flashback e a indemnização que tiveram de pagar ao Zahavi para que ele desaparecesse consumiram uma boa fatia do orçamento, fazendo com que tivessem de reescrever o enredo. A partir de agora, ia aparecer um tipo novo a fazer de Zahavi, um gajo assim para o barato chamado Bio, que foi repescado deste post da Cromos daBola, SAD, a única que fez justiça ao potencial deste advogado-na-hora atempadamente.


Durante vários episódios, temendo uma quebra das audiências, os argumentistas tentaram de tudo para suster o público colado ao ecrã. Como em todas as novelas, as coisas embrulharam-se bastante e os episódios iniciais, tão prometedores, ficaram apenas como uma memória difusa. Multiplicaram-se raptos, mal-entendidos, insultos, tráfico de influências, o Bruma foi apanhado na cama com a mulher do Bruno e o Bruno soltou um sonoro “NÃÃÃÃÃO!!!” com a sua voz rouca que fez com que o Zahavi, qual Mr. Burns, se saísse com um “excellent!” lá em Israel, o Baldé descobriu que era pai do Djaló, do Bobó e de uma das filhas do Djaló, o Bruma passou a amar outra vez o Sporting, o Bruno suspirou de alívio quando viu que o Porto não ia ficar com o Bruma e deu-lhe um beijinho que fez corar o Bruma tanto quanto possível, o Dier e o Ilori andaram à porrada porque o Ilori desafinou a cantar a Marcha do Sporting, o Bio concluiu que o Sporting era inconstitucional, o Sporting foi para casa a chorar mais uma vez e encontrou novamente o Bruma na cama, mas desta vez com o Baldé, o Baldé apanhou comichão nos genitais e disse que o Bruma iria ter de o ressarcir, o Bio asseverou que o Sporting tornara Bruma em eunuco e por isso as acusações de Baldé estavam feridas de ilegalidade, o Bruma teve outro flashback com a cabeça do Kumba Yalá/Nino Vieira e agora diz que adora o Bruno mas detesta o Sporting e que o Chelsea é que era mesmo à maneira, o Bruno agastou-se ao ver responsáveis do Porto a aproximar-se das portagens de Alverca, o Bio apresentou documentos que provam que a Guiné nacionalizou o Bruma e exigiu a entrada de capacetes azuis em Alcochete para reclamar território usurpado pelo Sporting, apareceu o Bruma a dizer que o Sporting é o que sempre quis, mas que sempre odiou o Bruno e que tudo não passou do uma artimanha do seu gémeo mau, um gajo igualzinho ao Bruma mas com uma vagina, o Dier assassinou o seu gémeo mau junto a uma ravina dentro de um Ford Escort dos antigos que já estava a arder e sem pneus antes de se despenhar, numa daquelas cenas de baixo orçamento que acontecem amiúde pelo cinema português, o Bio provou que o Sporting não existe e tudo não passa de um holograma gigante engendrado pelo Bruno, o Bruno renovou contrato ao Dier e o Ilori chateou-se e pôs o boné de lado, o Baldé confirmou que estava com urticária e exigiu que o Bruma fosse para o Manchester City para lhe pagar os exames dermatológicos, o Bruma disse que afinal o campeonato espanhol é que é bom, o Futre, numa “guest performance”, teve um episódio inteiro só para si para não dizer coisa nenhuma e o Bio afiançou que o Bruno lhe propôs os serviços da sua esposa para que o Bruma ficasse, mas que achou que essa manobra tinha prescrito na temporada passada e por isso foi ver filmes indianos sozinho para casa. Tudo acabou com a possibilidade de dois fins alternativos à escolha: o primeiro, em que Bruma, Baldé e Bio controlam o mundo a partir do seu palácio instalado no Parque Eduardo VII, com Bruno como criado que lhe leva os gurundungus (espécie de Sugus) guineenses numa bandeja de prata, Ilori como jogral e Dier abandonado numa vala comum, após homicídio perpetrado por Zahavi; o segundo, onde vemos Fábio Paim a apresentar um programa vespertino de Verão na TVI lá para os lados de Alfândega da Fé e, lá atrás, Bruma a fazer de sidekick de Paim, imitando um cão enquanto passa a música de “Who Let The Dogs Out?”, que nessa altura é um êxito outra vez, muito por força da remistura assinada por Ilori.

sábado, março 16, 2013

Estilo ao Alcance de Todos


As exportações estão na moda e a moda está nas exportações. Por todo o lado, a moda desportiva vintage portuguesa espalha charme, glamour e bom gosto. Atente-se no orgulho com que o laureado Brad Pitt enverga as malhas do Desportivo das Aves mid-90’s, com o vigoroso patrocínio Autoni. Pitt mostra que é possível exibir um grande estilo mesmo com as roupas normalmente associadas ao Prof. Neca.  Angelina sorri, confiante.


George Clooney é outra vedeta de Hollywood que não resiste ao encanto das vestimentas lusas. Nem mesmo ao sair das gravações do seu spot publicitário para a Nespresso se coíbe de mostrar ao mundo a sua predilecção pelo portuguesíssimo Café Delta e, consequentemente, pelo torrefacto equipamento do Campomaiorense, marca Tepa, um modelo muito contemporâneo. É provável que tamanho desaforo à Nespresso não caia bem junto dos mesmos, mas Pedro Morcela já se disponibilizou para prestar todo o apoio necessário a George Clooney caso haja algum stress.


No mundo da música, as estrelas tecem loas à qualidade da estamparia portuguesa, do techno à world music. Até os inoxidáveis Metallica desse maluco que é o James Hetfield sucumbiram perante o arrojo do equipamento Adidas do Estoril 1997-98, principalmente pelo fogoso patrocínio do Big Show Sic, que tantas e tão inesquecíveis tardes de divertimento popular e zoófilo nos proporcionou. A combinação de cores e temas pode parecer estranha. E, na realidade, é mesmo estranha.


Rodando a agulha para o lado da política, é com algum espanto que notamos que até nas latitudes mais improváveis se notam os efeitos do tsunami estilístico da antiga II Divisão de Honra. Soube-se agora, através de uma fuga informação privilegiada, que Kim Yong-il, esse caricatural líder coreano, apenas se permitia a quebrar o seu rígido protocolo de vestuário com as sóbrias camisolas patrocinadas pela Reflux do Penafiel 1995. Vermelho, com algumas pinceladas de negro e amarelo, cores bem socialistas. Ai de quem não sorrisse.


Quando Christine Lagarde, a habitualmente sóbria directora do temido FMI, precisa de dar mais cor ao seu discurso opta por trajar o jersey do União da Madeira 1994, patrocínio Prégaia. Não é uma escolha qualquer – como uma líder multi-regional, Lagarde percebe que a harmonia entre os vários povos é bem-vinda e, como tal, é perfeitamente lógico que se vista com o emblema dos anos 90 que mais se celebrizou pela coexistência relativamente pacífica de várias nacionalidades. Lagarde, aliás, até passa por sósia do Lepi actual.


Até Barack Obama, que dispensa apresentações, aprecia sentir o conforto da camisola esquisita do Boavista do início dos anos 90 nos seus momentos de lazer. O desporto pode ser outro, mas o impacto do patrocínio Vila Flor no axadrezado que foi um dia de Nogueira, um plácido Cristo no Bessa, é transversal a todos os desportos, credos, raças e culturas, para além de reforçar a imagem de proximidade do presidente com o povo. E Michelle Obama tem uma camisola com o patrocínio Teresinha, que usa para jogar às (primeiras-)damas.

No frio siberiano, Vladimir Putin caminha sem medo. Desafiante, implacável e sem pingo de sangue a correr-lhe nas veias, o touro russo exala uma aura de invencibilidade. Muito desse prestígio deve-se ao saudável equipamento do Alverca da sua belle-époque primodivisionária. A preferência de Putin pelo Alverca remonta aos tempos em que o seu compatriota Faizulin conduziu uma memorável missão de espionagem futebolística no Ribatejo – o joelho original de Mantorras está algures perdido no Kremlin, diz-se à boca cheia.
O traje também pode indiciar o estado de uma relação. Aqui vemos os famosos Robert Pattinson e Kristen Stewart, na sua fase aparentemente platónica. Por enquanto, era só sorrisos e  vaidade. Ele, com um modelo Paços de Ferreira – Moliday, de fabricante obscuro; ela, com as cores do seu inimigo figadal, o Freamunde – Capital do Móvel, marca Joma. Era um equilíbrio instável entre vampiros que só podia dar sangue. Como efectivamente deu.


Os proxenetas também não ficaram indiferentes à moda desportiva portuguesa. E em época de crise no consumo, incluindo o sexual, há que ser inovador. Agora, já é habitual encontrarmos meninas pelas bermas das estradas ostentando o equipamento do Moreirense com o patrocínio De Borla. Marketing agressivo? Publicidade enganosa? Fica ao seu critério... Mas nada melhor do que experimentar antes de formar a sua opinião.


Exemplo extremo do interesse pelo imaginário futebolístico do final de século é o demonstrado pelos detentores dos direitos do Superhomem. Eles adquiriram os direitos de imagem da mítica camisola vestida por Botende ao próprio guardião e a partir de agora o Superhomem terá dois fatos oficiais: o do costume e o de Botende. A alteração do catálogo provou-se um sucesso. Botende encheu-se de guita e o Superhomem ficou um pouco mais imune à kriptonite, devido às estranhas propriedades da camisola Saillev.


Para finalizar, uma despedida. O ex-papa Bento XVI não quis dizer adeus sem revelar a sua profunda gratidão a missionários tão benquistos no Vaticano, como Serifo, Constantino ou Cao, que, sob o manto Leça – Imoloc, faziam com que adversários, árbitros e público em geral rezassem pela sua sorte. O papa demissionário não podia deixar de reconhecer a força de espírito que aquele equipamento lhe deu nas horas mais difíceis, quando a fé parecia vacilar: a fé vacilava e, pumba!, lá vinha uma aparição de um Alfaia em cima de um Tozé a ceifar a fé por trás, reanimando-a. De uma forma brutal, é certo, mas aquilo de facto espevitava-a para a vida. É assim, ínvios são os caminhos religiosos. Uma vez prestada a homenagem, o seu coração pôde entrar mais aliviado no mosteiro, com a camisola Leça - Imoloc a voar por entre os fumos da Praça de São Pedro.

sexta-feira, março 08, 2013

Sob o Signo do Amuanço

Grupo Desportivo de Chaves: Unidos. Determinados. Amuados.
Esta poderia ser a tagline da época 1994/1995 para lá do Marão.


imagem gentilmente gamada de gloriasdopassado.blogspot.com
J'aime Cerqueira e a sua crew de renegados, com o rebelde Zito à cabeça, demonstram claramente pouca vontade de posar defronte à invasiva lente ao soldo do diário "A Bola".
"Fuck mainstream magazines, man", afirmava Zito com desdém enquanto sacudia a incomodativa melena grunge defronte do olho direito."Fuck the pic, dudes. Let's show them that GD Chaves is no fuckin' sellout."
Porém, um Carvalhal na fase decadente de tão ilustre carreira discordava veementemente com o angolano, pois já piscava o olho ao "establishment" tendo em vista um futuro lugar como Mijter:
- "Parem de se comportar como crianças. Temos responsabilidades para com os simpáticos leitores do periódico desportivo."
"You sold out, man!", contestava um enérgico Edinho de lágrima ao canto do olho. "You used to be cool.", murmurava desapontado de terço ao (liliputiano) pescoço. Amarildo confortava o avançado oferecendo-lhe um ombro amigo para chorar.
"Calma pequenino, tudo vai correr bem..." sussurrava o defesa no calor humano de um abraço fraterno.
- "Fuckin' suits, man! Fuckin' suits!", berrava um agastado Lino em defesa de Edinho, atirando uma rodela de chouriço ao bigode de Manuel Correia, perante o choque do balneário.
Correia, fazendo gala da sua característica fleuma britânica, não reagiu, limitando-se a sacudir o impecável moustache e a penteá-lo cuidadosamente com o pequeno pente que trazia sempre guardado na meia direita.
Nesta fase, a equipa já se encontrava claramente dividida, com a facção anti-establishment composta por Edinho, Zito, Lino, Amarildo e Cerqueira a ocupar o lado esquerdo do balneário.
Zito, Edinho e J'aime : "success sucks."
Manuel Correia, Palexandre, Agostinho e Carvalhal defendiam o forte do lado oposto.
Toniño, por outro lado, encontrava-se momentaneamente nas latrinas: "Hablem baixo qué estoy cagando!", sugeria suavemente o espanhol com costumeira classe. O centro-campista sofria frequentemente de desarranjo intestinal nos momentos que antecediam o franzir de sobrolho para as fotos de plantel de início de época.
O luso-parisiense Agostinho, fã número um de Dino Meira, encontrava-se agastado. "Nous avons que resolver cette situação, dommage.", "Je tiens que tirer la foto para mostrar a minha familie à Paris de France que estou realment jogando ballon au Portugal."
"You're fucked up, man! All that thirst for fame, man. You disgust me.", murmurava um decepcionado Zito. "Fuckin' fame, man...faggots."
Nisto, voa uma desprezível beata na direcção das chuteiras de Carvalhal, cortesia de J'aime Cerqueira: "This used to be about the music, man. All about the music..."
Sentindo-se desrespeitado, Carvalhal ensaia um potente banano à bela face de Cerqueira. Os ânimos inflamam-se e os jogadores envolvem-se numa salada russa de bordoadas, sopapos, milhos e bofetões  tudo bem regado com azeite q.b.
O caos desenrola-se perante o olhar horrorizado do senhor velhote anafado de t-shirt branca, roupeiro do GD Chaves desde a primeira Revolução Industrial:
- "E as crianças!! Alguém pense nas crianças!!"
Caos.
Bigode do Manuel Correia.
Revolta.
Desordem.
Chouriço.
Choro.
Desespero.
Resignação.
A poeira assenta. O mórbido silencio pós-batalha é apenas quebrado por tímidos gemidos de dor. A carnificina é total, corpos jazem quentes e mal tratados no frio chão do balneário.
J'aime Cerqueira leva a mão à monocelha, como se estivesse a certificar-se de que tudo está bem no Mundo.
A "cerquelha" ainda estava viva e de saúde. Longa vida à "cerquelha".
Agostinho ergue-se lentamente, sacudindo o equipamento e beijando o galhardete de "Le Portugal" que traz sempre na cueca, não vá ele marcar um golo e ter a oportunidade de mostrá-lo ao mundo.
Palexandre ajuda Manuel Correia a levantar-se, desempoeirando-lhe o bigode.
Edinho, Amarildo e Lino demonstram invejável entreajuda, amparando-se mutuamente.
yes they do, Zito. yes they do.
Zito, esse, mantém-se sentado no chão do balneário, cabisbaixo. Vai abanando lentamente a cabeça enquanto acende um reflectivo charro com o sempre fiel isqueiro ofertado pelas Tintas Europa.
- "What happened to us, man? we used to be like brothers..."
Subitamente, um estrondo ecoa pelo espaço  É Toniño, fechando vigorosamente a porta da latrina. Parece aliviado e traz um sorriso nos lábios, quando se depara com o triste cenário de carnificina fratricida.
"Ostia, Tios! Qué pasó? Bamos embuera, ahora qué já liberté la tripa, ya podemos ir tirar la fueto, carajo!"
Zito levanta lentamente a cabeça e olha de esguelha para os seus comparsas, procurando um fugaz sinal de anuência.
O choroso senhor velhote de t-shirt branca, sentindo que está perante um momento crucial da trama, implora esperançado:
- "E as crianças!! Alguém pense nas crianças!!"
Lino, coçando a sua carapinha arruivada, toma também consciência da importância do momento:
- "Fuck it man, let's do it.", diz entre-dentes enquanto cospe subtilmente para o chão o palito que tinha na boca.
Amarildo partilha o mesmo sentimento, olhos-nos-olhos com Zito, ajudando-o a levantar-se. Palmadinha nas costas.
- "Bora, caralho. que sa f****."
Abraçados, os contestatários aproximam-se solenemente de Manuel Correia e seus sequazes:
- "Fuck it. One last dance...for old times' sake. But corporate magazines still suck."
Com o sol matinal a acariciar suavemente os moídos rostos, os flavienses dirigem-se pesarosos para o túnel de acesso ao tapete verde. Dead men walking, juntos pela ultima vez.
Infelizmente, o ambiente já não era o melhor. Claramente contrariados, os jogadores cruzam os braços e rangem os dentes.
Os jogadores, esses, sabiam que nada voltaria a ser como dantes. Os dias de treinos em prados floridos, carregados de beijinhos, algodão doce, compotas caseiras e afagamento dos caracóis do Edinho já era coisa do passado.
Para a posteridade fica a primeira foto de plantel da História do Futebol sob o signo do amuanço.
Semblantes carregados, braços cruzados. Olhares vagos e bigodes tristes.
Desprezo pela lente e pelos leitores.
À esquerda, o inocente sorriso de um anónimo adjunto disfarçado de palhaço (na verdade, é apenas o hediondo equipamento de treino da turma transmontana) é um falso oásis de esperança no meio de um deserto árido e deprimente.
"já conheci melhores dias."
No canto inferior direito, o senhor velhote anafado de t-shirt branca chora copiosamente, contemplando suicídio.
As crianças, alguém pensou nas crianças???
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